Cidade de Giz: Ensaio Gráfico

Jeferson Carvalho da Silva 

Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Pesquisador do Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (LA’GRIMA/Unicamp). 

 

Se estivesse menos atento ao caminhar pelas ruas de Viçosa (Minas Gerais), muito provavelmente não perceberia as marcas de giz inscritas em suas pedras, tampouco encontraria os artefatos encaixados nas brechas dos postes e nos vãos entre os galhos das árvores. Efêmeras, essas inscrições não possuíam local certo para aparecer e, logo após seu surgimento, desapareciam sem deixar rastros. Instigado, em busca dessas grafias, passei a olhar para os espaços da cidade com mais atenção e, aos poucos, fui entendendo que estavam sendo traçadas por uma mesma pessoa. Mas quem e por qual motivo?


Em uma cartografia descontínua, marcada por desencontros, me deparava com as inscrições de giz. Não sabia quem era a pessoa que as espalhava, acompanhava apenas seus processos de criação, dentro de suas inconstâncias, alimentando suspeitas imaginárias. Com o passar do tempo, deixei que as tais marcas me surpreendessem, fui registrando-as em meus percursos cotidianos e de pesquisa, mas elas surgiam como que por vontade própria em meus caminhos.

Posso dizer que demorou muito até que, acidentalmente, me encontrasse com o “Homem de Giz” (como passei a chamar intimamente essa pessoa após receber pistas sobre sua possível identidade). Não me aproximei, apenas fiquei observando-o por alguns instantes. Preferi que fosse assim e essa escolha me fez entender, dentro de suas limitações, partes de seus processos de invenção da própria cidade. Uma cidade mutante, tão efêmera quanto as marcas de giz. Que se inventa a partir das experimentações e dos processos de criação e expressão cotidianos desse homem e de outras pessoas que produzem suas próprias linguagens, que se inscrevem na matéria bruta das pedras a partir de seus próprios símbolos e relações. Pesquisa “Narrar a cidade: a poética e a política do cotidiano”, orientada pelo Prof. Dr. Douglas Mansur da Silva entre os meses de março e setembro de 2019.

Na tentativa de entender seus processos de inscrição e criação, tentei experimentar minhas próprias grafias a partir dos modos de se inscrever na cidade do Homem de Giz. Nesse movimento, estava operando sua invenção (Wagner, 2017), ao mesmo tempo que suas grafias inventavam – e inventam – a própria cidade. Esta que, por sua vez, nos inventa a sua maneira. Dessa forma, ao apresentar esses processos neste ensaio gráfico, realizei um exercício de “ficção antropológica”, em que a ficção se controla pela própria experiência
etnográfica (Viveiros de Castro, 2002), onde os desenhos e as grafias se tornaram fundamentais enquanto metáfora e metodologia – assim como propõe Tim Ingold (2015) – numa tentativa de compreender e se aproximar de uma abordagem a partir da “cidade em si mesma”, como sugere Michel Agier (2011). Uma cidade que pulsa em nossas linhas e relações a cada instante.

 

Centralizado, na parte superior da imagem, escreve-se: “Cidade de Giz”. Logo abaixo, “Jeferson Carvalho”. Ao redor destas palavras, encontram-se linhas rabiscadas e pedras recortadas em papel. Tudo branco contra o fundo preto. Na parte inferior, também centralizado, encontra-se um mapa feito em linhas. Ao seu lado lê-se “Centro, (Viçosa-MG)’. À esquerda do mapa, escreve-se “um mapa instável, inconstante” e, à direita, “desencontros em uma cartografia descontínua”.

Centralizado, na parte superior da imagem, escreve-se: “Cidade de Giz”. Logo abaixo, “Jeferson Carvalho”. Ao redor destas palavras, encontram-se linhas rabiscadas e pedras recortadas em papel. Tudo branco contra o fundo preto. Na parte inferior, também centralizado, encontra-se um mapa feito em linhas. Ao seu lado lê-se “Centro, (Viçosa-MG)’. À esquerda do mapa, escreve-se “um mapa instável, inconstante” e, à direita, “desencontros em uma cartografia descontínua".

No canto superior esquerdo, lê-se: “sete e meia da manhã, meus passos percorrem o cimento das calçadas”. Logo abaixo, o desenho de um sapato e pedras. Ao seu lado, o desenho de uma pessoa de mochila nas costas, de frente para uma rua. No canto inferior esquerdo, encontra-se o desenho de uma lixeira pregada junto a um poste e, um pouco menor, pessoas andando por uma rua. Logo abaixo, escreve-se: “observo marcas de giz no chão, o que elas significam?”. Dentro de um quadrado, vemos as tais marcas, riscos irregulares e paralelos. No canto superior direito, tem-se o desenho de uma mão segurando um celular, com a foto das pedras de uma calçada na sua tela. Três imagens em preto e branco se espalham pela parte inferior direita, nas quais se veem calçadas e paredes com rabiscos de giz. Escreve-se: “passo a tomar notas das marcas que encontro. efêmeras, não sei onde e quando elas podem surgir”.

No canto superior esquerdo, lê-se: “sete e meia da manhã, meus passos percorrem o cimento das calçadas”. Logo abaixo, o desenho de um sapato e pedras. Ao seu lado, o desenho de uma pessoa de mochila nas costas, de frente para uma rua. No canto inferior esquerdo, encontra-se o desenho de uma lixeira pregada junto a um poste e, um pouco menor, pessoas andando por uma rua. Logo abaixo, escreve-se: “observo marcas de giz no chão, o que elas significam?”. Dentro de um quadrado, vemos as tais marcas, riscos irregulares e paralelos. No canto superior direito, tem-se o desenho de uma mão segurando um celular, com a foto das pedras de uma calçada na sua tela. Três imagens em preto e branco se espalham pela parte inferior direita, nas quais se veem calçadas e paredes com rabiscos de giz. Escreve-se: “passo a tomar notas das marcas que encontro. efêmeras, não sei onde e quando elas podem surgir”.

 

Nove imagens em preto e branco se espalham sobre um fundo preto. Nelas, veem-se postes, paredes e calçadas, todos com marcas de giz. Próximo ao centro da imagem, encontram-se as linhas de um mapa. Escreve-se: “elas se multiplicam, desaparecem… e tornam a aparecer”

Nove imagens em preto e branco se espalham sobre um fundo preto. Nelas, veem-se postes, paredes e calçadas, todos com marcas de giz. Próximo ao centro da imagem, encontram-se as linhas de um mapa. Escreve-se: “elas se multiplicam, desaparecem… e tornam a aparecer”

 

Na parte esquerda, encontra-se uma página de livro com desenhos medievais e marcas rabiscadas em caneta. Na direita, tem-se a frente e o verso de um bilhete de loteria, também com marcas em caneta. Escreve-se: ”Instigado, observo as ruas com atenção redobrada e encontro artefatos espalhados pela cidade. Nos postes, árvores e lixeiras… em caneta e com grafias semelhantes”.

 

 

Na parte esquerda, encontra-se uma página de livro com desenhos medievais e marcas rabiscadas em caneta. Na direita, tem-se a frente e o verso de um bilhete de loteria, também com marcas em caneta. Escreve-se: ”Instigado, observo as ruas com atenção redobrada e encontro artefatos espalhados pela cidade. Nos postes, árvores e lixeiras… em caneta e com grafias semelhantes”.

 

Do lado esquerdo da imagem, tem-se centralizado o desenho de um homem, careca, barba por fazer, e camisa social, e o desenho de duas outras cabeças flutuando ao seu redor, uma de cada lado. Logo abaixo, pares de olhos flutuam sem rosto. Na parte direita, encontram-se recortes de uma folha com desenhos coloridos. Neles, vêem-se: rabiscos, rostos, um chinelo, uma mão segurando um giz e um rosto amarelo sobreposto com linhas que formam ruas. Escreve-se: “Aos poucos entendo que as grafias são feitas pela mesma pessoa… mas quem? Me disseram que um homem negro, de meia idade, estava inscrevendo as marcas ao entardecer em frente à Câmara Municipal, no Calçadão. O procuro, em vão… passo a imaginá-lo. Tento operar meus traços através de suas poéticas”.

Do lado esquerdo da imagem, tem-se centralizado o desenho de um homem, careca, barba por fazer, e camisa social, e o desenho de duas outras cabeças flutuando ao seu redor, uma de cada lado. Logo abaixo, pares de olhos flutuam sem rosto. Na parte direita, encontram-se recortes de uma folha com desenhos coloridos. Neles, vêem-se: rabiscos, rostos, um chinelo, uma mão segurando um giz e um rosto amarelo sobreposto com linhas que formam ruas. Escreve-se: “Aos poucos entendo que as grafias são feitas pela mesma pessoa… mas quem? Me disseram que um homem negro, de meia idade, estava inscrevendo as marcas ao entardecer em frente à Câmara Municipal, no Calçadão. O procuro, em vão… passo a imaginá-lo. Tento operar meus traços através de suas poéticas”.

 

 

Na parte esquerda, há o desenho de um homem, careca, com barba por fazer e camisa social. Ao seu lado, flutuam traços, rastros, três linhas paralelas, o número um, ruas que se cruzam e pedras rabiscadas. Na parte direita, há três silhuetas rabiscadas: uma amarela, uma azul e uma branca, ambas com ruas traçadas aos seus pés. Escreve-se: “Me pergunto: como inscrever-se na cidade aos modos do Homem de Giz? E em minhas ficções passa a habitar sua cidade”.

Na parte esquerda, há o desenho de um homem, careca, com barba por fazer e camisa social. Ao seu lado, flutuam traços, rastros, três linhas paralelas, o número um, ruas que se cruzam e pedras rabiscadas. Na parte direita, há três silhuetas rabiscadas: uma amarela, uma azul e uma branca, ambas com ruas traçadas aos seus pés. Escreve-se: “Me pergunto: como inscrever-se na cidade aos modos do Homem de Giz? E em minhas ficções passa a habitar sua cidade”.

 

Todos os desenhos em branco destacados contra o fundo preto: à esquerda, dois quadrados, um com um homem careca de costas encarando uma rua com dois postes e outro com uma mão aberta com giz em sua palma; mais abaixo, um par de chinelos; acima, traços rabiscados, alguns dos quais formam ruas e números; ao seu lado, o desenho de pedras riscadas; abaixo, uma mão rabisca uma parede com um pedaço de giz. Escreve-se: “Uma cidade inventada. Que pulsa em seus caminhos e grafias. Uma cidade de giz”.

Todos os desenhos em branco destacados contra o fundo preto: à esquerda, dois quadrados, um com um homem careca de costas encarando uma rua com dois postes e outro com uma mão aberta com giz em sua palma; mais abaixo, um par de chinelos; acima, traços rabiscados, alguns dos quais formam ruas e números; ao seu lado, o desenho de pedras riscadas; abaixo, uma mão rabisca uma parede com um pedaço de giz. Escreve-se: “Uma cidade inventada. Que pulsa em seus caminhos e grafias. Uma cidade de giz”.

 

Centralizado, em branco sobre um fundo preto, linhas cruzam-se, misturam-se e emaranham-se na construção de algo que pode ser visto como uma espécie de cidade, com ruas, prédios e casas.

Centralizado, em branco sobre um fundo preto, linhas cruzam-se, misturam-se e emaranham-se na construção de algo que pode ser visto como uma espécie de cidade, com ruas, prédios e casas.